"De modo que Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor." I Samuel 1.20
Ana tinha uma rotina de vida que a desagradava completamente. Era machucada todos os dias. Tinha que ouvir em alto e bom som sua fragilidade. Ana era estéril, e a segunda esposa de seu marido e sua rival, Penina, fazia tudo para lembra-lhe de sua dor. Seu marido, chamado Elcana, tinha o direito legal de ter outra mulher por causa da esterilidade de Ana. Naquele contexto, uma mulher que não gerasse filhos era considerada uma fracassada e mesmo amaldiçoada. Certamente Ana era vista como inferior. Talvez convivesse com olhares e cochichos a respeito de sua condição.
Três vezes ao ano, Elcana e sua família subiam a Siló para celebrar festas religiosas. De Ramá, onde moravam, até Siló percorriam cerca de 300 quilômetros, durante duas ou três semanas. A Bíblia registra o sofrimento de Ana durante essas viagens, ouvindo de sua rival que era uma fracassada, incapaz de dar herdeiros ao marido. Conviver com nossas fragilidades é difícil, mas tê-las expostas e lançadas ao rosto com regularidade é cruel.
Em uma dessas viagens, após muito ouvir de Penina, Ana ficou tão triste que não comeu e nem bebeu na festa. Que motivos ela tinha para celebrar? A alma estava ferida, o limite havia chegado. Então, Ana foi ao Templo e lá derramou toda a amargura de anos aos pés do Deus que nos vê. Ana já não podia suportar aquela rotina. Estava cansada de ver o mesmo filme, farta de ser a personagem principal de um enredo triste. Mesmo contando com o amor de seu marido, sua alma já não podia suportar tanta afronta.
Enquanto ela orava no Templo, o sacerdote Eli a observava, achando que estivesse embriagada, porque via os lábios se moverem, mas não se ouvia a voz. Podemos entender perfeitamente esse tipo de oração. Não é uma oração da boca. É uma oração da alma, quando a dor ultrapassa as palavras, e não há como expressar o sofrimento. Os lábios não podiam compreender o que havia no coração de Ana. Naquela oração da alma, ela fez o voto da honra, e o Deus da honra estava vendo-a e ouvindo-a.
Ana estava disposta a mudar o rumo de sua vida, queria um roteiro novo. Então, fez um voto ao Senhor e pediu um filho, prometendo devolvê-lo a Deus. Mesmo que Samuel fosse o único filho, ela o entregaria.
Nos anos seguintes, ela não pôde ir ao Templo. Penina perdeu sua maior diversão, pois Ana estava dedicando-se a Samuel (que quer dizer ouvido por Deus). A partir dali, Penina não poderia mais insultá-la, porque ela geraria outros filhos.
Queridas, o Deus de Ana é o nosso Deus. Aquele que não resiste um coração contrito, Aquele que não nega bem algum aos que andam em santidade. Aquele que nos deu Seu Único Filho, e sendo assim, está disposto a nos dar as demais coisas. Aquele que é galardoador, ou seja, presenteador. Aquele que liberou inúmeras promessas em nossas vidas e todas acompanhadas do sim e do amém.
No amor do Rei,
Kênia Freitas.